domingo, fevereiro 27, 2011

Dia de Chuva!!! (Parte 3)



Por medo de rejeição e ser abandonada, ela parte. Prefere não ter certeza, mas ela busca uma alegria, algo que faça seu coração bater forte, pegar fogo, descongelar. Ela tentou mostrar para Miguel e para ela mesma que não se importava com ele, que foi apenas um momento de carência, ela procurava se libertar desse sentimento que como veneno se espalhava por seu corpo e queimava.  Aquela situação, aquele sentimento virou uma espécie de desafio, tinha muito de nada, uma infinidade de fim.
Miguel caminhava pelas calçadas do parque onde a via pela ultima vez revivendo aquela noite, não entendia o porquê do caderno deixado em branco, nem um “adeus, um telefone, um endereço, qualquer coisa, uma pista, um nome”.  Ele procurava a razão, o significado daquilo, apenas um caderno em branco e uma caneta, o que ela queria dizer? Sentou em um banco de frente o lago, estava nublado, ventava forte. Miguel se descuidou e deixou o caderno cair em meio às flores no chão, quando se curvou para pegar notou um detalhe que não tinha percebido, dois meses folheando e nada, tinha um beijo na folha do meio, seria um sorriso deixado, um “adeus”? Ele não sabia, entendeu que talvez fosse hora de aceitar os fatos, pegou a caneta e do lado da marca de batom vermelho, ele escreveu:
-“Talvez tenha passado a hora, e acabei me perdendo nessa obsessão de saber a garota por trás desse mistério, sei pouco de você, mas me basta, só me falta teu nome, agregar este sentimento a algo real, assim parece um sonho, a moça que foi capaz de me encher de um sentimento desconhecido e sumir como a brisa.” Pegou uma pétala de rosa vermelha e fechou o caderno, se levantou e foi de encontro com seus amigos que estavam num barzinho do outro lado da rua. Ao verem Miguel se aproximar se entreolharem e juntos disseram:
-Não acredito no que vejo.
Lucas lhe entregando um copo questiona:
-Entendeu finalmente que nunca mais verá essa moça? Se a intenção dela fosse ser encontrada ela teria deixado uma pista, e não um caderno em branco. Meu amigo, desista.
Miguel o encara e balança a cabeça positivamente. Mas algo o perturbava. E por um instante ele aceitou a idéia. Quando Ana entra toda molhada dizendo:
-Desculpe-me a demora, devido à chuva o trânsito está terrível, e ainda esbarrei numa louca correndo pelas ruas rodopiando e gritando, cada louco nessa cidade. (sorri enquanto cumprimenta a todos)
Miguel num impulso se levanta e diz em voz alta:
-É ela, só pode ser... (e sai correndo na chuva)
 Para na calçada e olha para os lados, ouve um grito e vai  em sua direção, não muito longe ele vê a garota que gritava, cabelos molhados e soltos, a chuva estava forte, mas não a intimidava, ele corre em sua direção, ao se aproximar ele a puxa pelo braço virando-a. Era ela. Ele sorri, balança a cabeça e diz em voz alta.
-É você, não acredito que seja você, não pode ser, devo estar tendo uma alucinação...
Ela o olha assustada e ao ouvir suas palavras puxa o braço dizendo:
-Lógico que sou eu, da mesma forma que você é você, sua mãe não lhe ensinou que não se puxa uma mulher assim, quanta grosseria. Vira as costas e segue andando com a cabeça baixa e passos largos.
Miguel a segue, tenta acompanha-lá.
-Me diga seu nome, por favor, seu endereço, qualquer coisa, me dê uma pista, me revele quem é a moça que sempre encontro em momentos inusitados. Me explique o porque do caderno em branco e a marca de batom.
-Cale a boca, você me enche com suas perguntas, eu sou isso que vê. (Para e olha para Miguel abrindo os braços).
Miguel a olha e sorri envergonhado virando a cabeça para o lado.
-Me desculpe, mas...
-Mas... Mas o quê? Que droga, me esquece, olha pra mim desgrama, não queria falar comigo? Então fale, por que me segue? O que quer? Diga algo. (Terminando a fala passa as mãos pelos cabelos e morde os lábios enquanto dá um leve murro em sua boca).
Miguel balança a cabeça novamente, pega sua jaqueta e a estende para a “moça misteriosa”.
-Pegue vista isso, sua blusa está transparente.  (Dá um sorriso de canto com a cara mais lerda) Você tem um... Você fica bem molhada. (sorri)
Envergonhada ela se olha e pega a jaqueta dando as costas para Miguel.
-Obrigada, justo hoje resolvi sair das roupas escuras. Vou ignorar o que disse por ultimo, pro seu bem. (sorri) Adoro chuva, estava saindo do trabalho quando começou desci da moto e vim sentir suas gotas, sinta, abra os braços, deixe as gotas deslizarem em seu rosto, sua boca. É um presente, uma sensação de leveza, liberdade.
-Então, você gosta de chuva e anda de moto, já sei algo sobre você. (Olha para a lanchonete do lado) Vamos entrar? Podemos pegar uma gripe.
Ela balança a cabeça e sorri.
-Te deixei o caderno em branco por que devemos viver assim, nunca sabemos o porquê de nada e nem o amanhã, mas podemos escrevê-lo. Te deixei um beijo... Te deixei um beijo porque...
-Porqueeee??
-Para você não dizer que sai sem me despedir, (risos). Não sou boa com as palavras, não sei lidar com as pessoas.
-Por isso você adquiriu esse super poder de desaparecer sem deixar rastros?
-Pode se dizer que sim. (sorri entortando a cabeça e torcendo os braços)
-Acho que estou apaixonado, me diga seu nome. Por favor, me diga seu nome, quero escrever um capitulo da minha vida com você, me permite? (diz isso estendendo a mão para a moça)
-Talvez! (sorri) Faremos um acordo, parou a chuva, mas ainda está frio, digo meu nome se me acompanhar num sorvete, aceita?
-Hmmm, sorvete no frio e encharcado? Diferente, mas aceito.

Taty N.S.



2 comentários:

Anônimo disse...

Taty, esse conto tá super! Adoro o tempero que vc coloca, nada meloso demais, com uma pitada de veneno. Amei esse capítulo e to ansiosa pela próxima parte *--*

Bjooo;**

Gregório disse...

Eu acho que eu peguei o bonde andando, mas mesmo assim gostei muito do que li. Essa idéia de mulher misteriosa sempre rende as melhores histórias.

Ainda em ritmo de carnaval, mais um texto para o meu blog: O Momo http://sonhadordesperto.blogspot.com/2011/03/o-momo.html