segunda-feira, novembro 15, 2010

A Vigésima Carta!!!


Se for para ser arrogante, seremos...
É a vigésima vez que lhe escrevo e não envio, de todas as cartas, sempre me perco nos detalhes, nem o papel é igual, tive esse desperdício de não repetir as cores, formas e desenhos. E cada uma delas uma letra diferente, para expressar a amante variável que posso ser.
Sempre ao terminar vou até o correio, paro na porta, respiro olho para o bebedor e retorno para casa com o envelope em mãos...
Essa semana tive a ousadia de lhe enviar todas numa caixa com nossas lembranças e recortes. Sim, confesso que na madrugada de sexta me perdi na sua rua e me encontrei em frente a sua janela, e o vi se perfumar, queria sair dali, queria sair correndo entre lágrimas, virar a esquina e saltar para Marte, mas meus pés se paralisaram ali, perdi o controle, não chorei, apenas congelei-me por instantes ali observando você namorar uma foto. Peço desculpas, pois descobri que tenho visão de “raio-X”, pois vi quem era a garota da foto, e não era eu, e ela sorria, não sei se me contive no sorriso da garota desconhecida ou nos seus olhos transbordando amor.
O telefone toca e você se levanta sumindo do meu olhar. Nesse momento me libertei, sai correndo por entre as quadras, virei algumas esquinas, mas não saltei para Marte, e sim me joguei em minha cama enforcando o travesseiro e calando minhas lágrimas nele. Ele chorou comigo e sentiu a angustia que apertava-me o peito. 
Não pude mais suportar, olhei para a escrivaninha, e peguei uma caderneta e uma caneta qualquer, dessa vez não escolhi, ignorei os detalhes, e acho que fui mais sincera assim, não aguentava mais e desabafei entre meus garranchos chorosos. Não suportei o choro e fui até a janela refrescar meus olhos marejados. Tropecei numa lembrança, era teu sorriso guardado numa caixinha que tinha desde nosso primeiro encontro, há “dez anos atrás”. E embarquei numa viagem do “túnel do tempo” até aquele dia, quando me disse que meu olhar demonstrava rancor, decepção, desilusão e isso me tirava a sutileza de meus traços. E continuou: “Aproveite melhor seu tempo, sorria mais, ame menos...” E eu sorri feito besta, mas não me segurei em não amar, eu “o amei”.
Fiquei flertando o galho seco da árvore que irritantemente roçava minha janela e projeta no chão do meu quarto uma mão macabra com dedos longos, e que apontavam para meus riscos e risos (tenho um mural que fica em cima da escrivaninha, onde coloco minhas fotos de sorrisos forçados e de momentos considerados ideais para ser feliz). E me acabei em risos quando um brilho ofuscou naquela escuridão, a foto de quando colocamos aparelho, se lembra? A foto ficou tão bizarra com aquela ferragem na boca que customizei com papel alumínio, aquela foto nos rendeu altas gargalhadas de pernas para cima ouvindo AC/DC. Eu sempre amei seu jeito óbvio e otimista de ser e você dizia gostar da minha forma extrema e bipolar, às vezes pesada para o pessimismo, mas nos equilibrávamos. Era assim, você com suas camisas laranjadas, amarelas e verdes e eu com meus vestidos pretos e às vezes para colorir um pouco roxos. Você ria do meu humor negro, e eu odiava quando me chamava para dançar forró. Mas eu ia, e o observava dançar com outras, e nesse meio o observei sair de mim, se cansou do meu mundinho preto e branco. O nosso equilíbrio caiu no chão veio vidro e se quebrou, e refletiram tantos nós que terminou em “eu” e “você”, separados, distantes e feridos como os cacos. Assim eu cruzei a sala e parti para algum lugar, você sabe da minha obsessão por Marte, mas fui de encontro a Lua e ela cristalizou minhas lágrimas no lago. Eu o amava por inteiro, mas o deixei aos pedaços. Não percebi meu egoísmo naquela hora, apenas o vi se afastar, e nada fiz, arranquei o sorriso e o deixei ali cercado por suas cores. Eu o odiava, odiava suas brincadeiras e como me fazia rir, mas foi por sentir este ódio que o amei. Eu voltei pelo mesmo caminho e não encontrei os erros cometidos, apenas recordações.
Você sempre teve certeza de suas atitudes, e de nunca errar, então quem errou?

Taty N.S.

2 comentários:

Luna Sanchez disse...

Oi, Taty! =)

Logo de cara vejo algo em comum entre nós : as cartas!

Essa tua está linda, tocante, cheia de emoção! Gostei da parte da caixa de lembranças, sabe? Também tenho uma caixa onde guardo as cartas que quero entregar pessoalmente (e não remeter), e que, claro, não são aquelas trocadas entre o Marlon e a Srta. P.

Rs

Obrigada pela visita e pelo comentário, seja muito-bem vinda ao meu blog.

Um beijo, ótima semana!

ℓυηα

Rockson Pessoa disse...

Olá Taty...

Que intenso hein guria?! Isso não é uma carta apenas - é uma carta bomba. Bomba de emoções e sentimentos!
Parabéns e já te sigo!